ESPELHO
Tinha uma cristaleira, guardava objetos e delicadezas. Delicadezas que um espelho tornava objetos. O espelho da cristaleira era no fundo. E, no fundo, tudo e mais me doía. Ajoelhado, o espelho via a mim, via minh'alma -- a triste, perdida e comovida alma. Timunda, pano e rodo, limpava a sala: -- Menino, para de embaçar o vidro da cristaleira! -- Né vidro não. É o espelho, Timunda! -- Olhando demais o espelho quebra, viu? -- Ai!... Hoje sei, quebrou-se foi o encanto. Fico com o poeta: "Eu guardo o espelho, / o espelho não me guarda".
Afonso de Castro Gonçalves Membro-Fundador -- Patrono: Millôr Fernandes. Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas (ABLAM)
ABLAM e Afonso de Castro Gonçalves
Enviado por ABLAM em 16/03/2023
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